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in limine

teu olhar habita (fundo) o universo espelho sem medida (respira) a curva invisível do número in- finito seta que dispara sem condição (como sem saber  porquê) o piano move-se entre sombras - lenta combustão do teu peito onde  o enxofre aprende  a ser   ar ( respira o som) respira  (o som  em ti)

Ciborgue

após a operação às cataratas o médico disse: as lentes são próteses d'alma transparências forjadas pelo forno da máquina na carne - vejo agora tudo                                &além tudo  (objectos deixaram de ser objectos) a  coisa em si  sumiu do léxico              da escola                    caminho ainda por entre                                          esses sinais entre falhas do sistema onde todas as linguagens falam entre si - porquê a palavra sonora quando o corpo se funde com um chip? olho uma cadeira... penso em voar.                (cadeiras deixaram de ser cadeiras     ...

a distância mais curta

Anatomias A distância mais curta entre nós é uma ferida limpa. Um corte que não sangra, mas pulsa, como um animal preso no escuro. Falo contigo como quem tenta não acordar um morto ou provocar um espelho. A tua ausência ganhou densidade: senta-te ao meu lado, respira por mim, toca os meus ombros com dedos de ar. Escrevo como quem tenta manter a própria pele: letra por letra, riscando a página como se fosse chão. Cada palavra, um fósforo. O modo simples de ver no escuro. Mulher com fósforos Não sou santa, nem sombra. Sou a mulher que segura fósforos num quarto onde tudo arde devagar. Aprendi a esperar sem tempo. Aprendi a acender uma luz sem luz. Os homens olham e pensam: ela vai incendiar tudo, mas já o fiz. Queimei nomes, camas, as palavras sonoras de dor. E não sobrou dor. Apenas o gosto a fumo na língua, e essa voz que diz: escreve, antes que tudo volte a silenciar. E então escrevo com fósforos entre os dedos, a cabeça acesa, como quem sopra vida na própria cinza. Relicário Há coisa...

a luz depois

Para P.J.C.M em memória de tudo o que muda a luz regressou                          depois sem peso         quando  os olhos rasgaram  por  mãos que                     não conheci era um       mundo diverso dos nomes      que  usava rosto cadeira  rua          árvore  sombras em água & o fundo não se movia nada mais era coisa                              nada mais era    ideia só  vibração  som antes      do  som  algo que  respondia     não com palavras mas com         o corpo  matéria luz carne       tudo isso & ainda o espaço  que expande negro      ...